terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O velho e o mar


O centro de pesquisas subliminares dos impublicáveis descobriu que o pulmão dos versos dos cigarros é um velho fantasma que não parou de fumar nem depois do naufrágio que o matou.






sábado, 29 de novembro de 2008

Vídeo-aula impublicável

Novembro: Eu (Robert) e Cind cobrindo a mostra CineBH 2008 e, concomitantemente, produzindo o curta Maxs Portes - o sapo que é o tal. Nessa correria toda, esquecemos de fazer um trabalho da faculdade. Fodeu! Mas a professora foi generosa e deixou que fizéssemos uma apresentação via web.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Palavras perigosas

“Nada temos a temer,
exceto as palavras”
Rubem Fonseca

Nietzsche já dizia que o problema da humanidade é gramatical, no livro A genealogia da moral, ele vai à raiz de palavras como “moral” e “deus” e analisa o processo de significação e re-significação pelo qual elas passaram ao longo da história. Numa perspectiva peirceana, pode-se dizer que o interpretante do signo deus, já não tem nenhuma relação o objeto de origem. E ao falar em objeto surge outra questão: é muito fácil compreender objetos figurativos, por exemplo, uma árvore. Por mais que o seu interpretante seja variável, afinal existe uma infinidade de espécies de árvores, nós temos a referência visual registrada em nossa memória, de maneira que se torna simples descrevê-la. Porém, quando o objeto de um signo é abstrato, por mais que cheguemos a um interpretante embasado em imagens, como imaginar um beijo ao ouvir a palavra amor, essa compreensão é vaga, pois descrever o amor como sendo um beijo não satisfaz nossa necessidade de compreendê-lo. E enquanto Russell e Gottlob Frege querem preencher o vago buscando uma teoria exata da inexatidão, a sociedade, e principalmente as classes dominantes, trata de materializar a vagueza de certos termos abstratos. Dessa forma podemos ver deus esculpido em Carrara, ou pintado por Michelangelo; os pecados mais graves passam ser associados à morte na fogueira ou um enforcamento em praça pública; o inferno é materializado no holocausto e em outros massacres; o poder pode ser tocado e feito de um metal dourado e relativamente raro ou cédulas de papel moeda; e assim por diante. Mas acontece que a sociedade vive se deparando com palavras vagas e sem referência, por exemplo, a palavra defenestrar, que também despertou o interesse do escritor Luís Fernando Veríssimo. Os europeus, principalmente os do leste, ao ouvirem a palavra possivelmente serão remetidos as históricas defenestrações de Praga, a primeira em 30 de julho de 1419 quando os partidários do reformador da igreja Jan Hus, nessa época liderados por Jan Zelivsky, jogaram pela fenêtre os membros do conselho da cidade por não libertar prisioneiros hussitas; depois em 1618, no início da guerra dos trinta anos, quando os representantes de Fernando II foram atirados pelas janelas do palácio Real de Praga. A palavra era pouco conhecida no Brasil até que nossa, organizada e progressiva, sociedade decidiu dar um uso para ela e de tempo em tempo pessoas são arremessadas pelas ventanas; mas isso só deve durar até o povo se acostumar com o termo.
Robert de Andrade Oliveira

sábado, 15 de novembro de 2008

Desabafo

Lá se vão meus pesadelos
Feitos de ódio e falsidade
Lá se vão meus pesadelos
Que se tornaram realidade

Lá se vão meus pesadelos
Sem bom senso e honestidade
Lá se vão meus pesadelos
Carregados de maldade

Vão-se em paz, meus pesadelos
Levando consigo uma verdade
Mesmo vestidos de sonhos
São ruins para humanidade

Lá se vão meus pesadelos
Carregados de rancor
Levam com eles, muita maldade
Vasos, extensão, até tanque...
E quem sabe, um extintor!


Homenagem à ex-sindica do prédio, que além da má administração, levou para sua nova residência vasos de planta, uma extensão elétrica e um tanque velho, de lavar roupas. O extintor foi seu filho, com raiva.


Fábio Almeida

sábado, 1 de novembro de 2008

Sem título

Minha raiva é tão sublime
Que nem sei o seu motivo

Meu desejo é tão enfermo
Que o seu sintoma é o desespero

Meu amor é tão horrendo
Que as putas me rejeitam

Minha dor é tão minha
Que evito a luta para não dividi-la

Meu fim é tão previsível
Que findo esses versos porcos
Com a mesma raiva do início.


Robert de Andrade Oliveira

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A DITADURA DA IMPRENSA – Breves Considerações acerca da Espetacularização da Cômica Miséria Humana

Dentre todas as tristes heranças que a censura deixou a nós brasileiros, creio que a pior delas tenha sido o salvo-conduto para a putaria explícita que hoje se lê e assiste, promovida – no sentido mais promovedor da palavra – por grande parte da imprensa, principalmente a televisiva. Diz-se putaria, mas já se pede o necessário perdão às profissionais do sexo, pela analogia de mau gosto, que ameaça desvalorizar suas atividades.
Diante de um mínimo limite ético ou legal, ouvem-se os clássicos gritos de “censura”, coroados com o não menos clássico e falacioso bordão de que “querem novamente acabar com a liberdade de imprensa no Brasil, voltar com os anos de chumbo”. E, enquanto nada se faz a respeito, cornos espetaculosos como os lindembergs, garotinhas vítimas como as eloás e isabellas, além dos bandidões malvadões como os sandros e champinhas continuam invadindo nossas casas, sem pedir licença, e, o que é pior, por meio de um serviço público, que é o “de radiodifusão sonora e de sons e imagens”, conforme se infere do art. 223 da Constituição Federal.
Nenhum direito é absoluto, muito menos o que garante a liberdade de imprensa, que só se legitima na medida em que atende aos interesses da sociedade, ou seja, desde que desempenhe uma função social, que nada tem a ver com a exibição nacional de um adulto mimado apontando uma arma para a cabeça de uma menina. Aliás, como já anteriormente tratado, tal exibição só fomenta a conduta dessas pobres vítimas abandonadas, que querem exibir sua dor a todos e, se possível, aparecer na televisão, gerando um efeito em cadeia, como o que conduziu à vedação ética à cobertura de suicídios. Queria ter nas mãos estudos que apontassem o número de mulheres gravemente feridas ou mortas por seus ex-namorados desde o começo do ano passado, o número de recém-nascidos abandonados desde que uma mulher abandonou seu filho na Lagoa da Pampulha, bem como o número de crianças mortas desde a defenestração da menina Isabella.
Caso ainda não se tenha percebido, ao contrário do que se propala por aí, quem promove a censura hoje é a própria imprensa libertina, que cerceia nossa liberdade de escolha ao exibir ininterruptamente esses crimes e seus atores, protagonistas da quotidiana e cômica miséria humana, os quais somente incrementam a sensação de pânico e insegurança com que já convive a sociedade. E ai de quem for contra.
A esse respeito, disse o filósofo Paul Valadier:

"Isso se percebe, em um primeiro nível, no desvio de sentido da referência aos direitos humanos para dar crédito a práticas libertárias: assim, não somente toda idéia de censura provoca indignação (mesmo se pessoas ou grupos são caricaturados, ou mesmo caluniados, por algum filme ou publicidade), mas a liberdade de expressão é invocada para justificar o que se deve chamar pornografia ou exibicionismo. [...] O apelo à liberdade, inscrito nos direitos do homem, serve de cobertura a formas de licenciosidade [...]." (Moral em desordem: um discurso em defesa do ser humano, p. 42).

Há um discurso perverso, segundo o qual, amparada na proibição à censura, a imprensa se dá o poder de fazer tudo, absolutamente tudo o que lhe for mais conveniente – entenda-se lucrativo –, inclusive cercear nossa liberdade de ler ou assistir programas que nos informem, contribuam para nossa educação e formação cultural, sempre respeitando valores éticos e sociais (art. 221, I e IV, da CF). Eu e você não podemos dirigir em velocidade acima da permitida, não podemos ouvir música em alto volume na madrugada, porque nossos direitos não são absolutos, esbarram nos dos outros. Contudo, somos diariamente obrigados a ouvir a Sônia Abrão, a Luciana Gimenez, a Ana Maria Braga e o Britto Jr. falando ao telefone com um seqüestrador ou opinando, com ar de autoridade, sobre segurança pública. Além disso, somos obrigados a ouvir um Zé Datena chamar pessoas de “imbecis”, como se fosse o dono da sabedoria, do discurso certo, verdadeiro arauto da moral e dos bons costumes. Pornografia pura...
Estava certo o comandante da Polícia Militar paulista – o que não apaga a enorme lambança que lá se consumou –, ainda que tivessem atirado no Histrião de Santo André, teriam sido duramente criticados. Não há escapatória para a fome de tragédia na busca pela audiência, afinal as empresas televisivas, dentre outras, vivem de lucros e, numa competição em que os fins justificam os meios, quanto mais tragédia melhor.

"A capacidade reprodutora de violência dos meios de comunicação é enorme: na necessidade de uma criminalidade mais cruel para melhor excitar a indignação moral, basta que a televisão dê exagerada publicidade a vários casos de violência ou crueldade gratuita para que, imediatamente, as demandas de papéis vinculados ao estereótipo assumam conteúdos de maior crueldade e, por conseguinte, os que assumam o papel correspondente ao estereótipo ajustem sua conduta a estes papéis." (ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas. p. 131).

É de se cogitar se outro não teria sido o desfecho, caso a polícia abandonasse o local, recusando-se a figurar no centro do picadeiro de um circo que já havia sido montado. Enquanto houver quem lhes dê atenção, lindembergs se multiplicarão dia após dia, na tentativa de exibir sua dor e, assim, corresponder da melhor forma possível ao papel que o olhar das câmeras dele espera. Com isso, diante da plena impossibilidade de se cuidar das obsessões e patologias de cada uma das pessoas que compõem a sociedade, deduz-se que o que deve ser contido é justamente o olhar dessas câmeras sedentas de tragédia. Instrumentos legais para isso não faltam, o que leva a crer que o que não há é coragem de enfrentar a inquisição e por ela também ser queimado na fogueira, sob acusação de bruxaria.

Barroso da Costa

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

É mole?


Apresentamos a vocês, Nino, o consultor de beleza de nosso querido jornal Super.Quer ter um bigode igual ao do Nino? Escreva para o jornal ou adquira-o na esquina mais próxima.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Eleições 2008


sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Confissão

Eu queria ser mais bonito só para ela me perceber, na verdade nem precisava ser muito atraente, bastava ela achar isso de mim. Queria que seus óvulos só pudessem ser fecundados pelos meus espermatozóides. Meu pau devia ter uma pinta saliente na ponta para lhe proporcionar um prazer inigualável, e que ele ficasse duro o tempo todo quando ela estivesse por perto. Não queria ter medo de ratos e poder matar dezenas deles aos bicudos para protegê-la. Precisava ser mais inteligente, para ter um emprego melhor, ganhar mais e poder jogar fora o rote e implantar dentes de louça. Fazer um transplante de cabelos para esconder a calvície que avança. Comprar um terno e um carro esportivo. Poder levá-la a Paris, Luxemburgo, Praga, Egito e onde mais ela quisesse conhecer. Eu já devia ter lido mil livros e saber falar alemão. Eu tinha que ser menos branco, mais alto, mais sério, mais compenetrado e menos desastrado. Ter olhos glaucos, nariz fino, ombros largos, mãos macias e o cabelo liso. Teria que parar de fumar, malhar duas vezes por dia, comer só salada e entender de vinho. Morar na zona sul em uma cobertura triplex e a convidar para jantar, ela iria querer viver comigo. Queria que meu sobrenome fosse Loyola, para ela desejá-lo, para ocupar um lugar de destaque nas colunas sociais. Devia mesmo era ser um sujeito famoso, ator, cantor, cirurgião plástico, político – político não –, empresário e ter o meu nome todos os dias no jornal. Eu tinha que ser amigo íntimo do seu psicanalista. Ter salvado a vida da sua mãe, ser chefe do seu pai e ex-colega do seu irmão. Eu tinha que ter uma marca de tiro nas costas e um dragão tatuado no bíceps. Precisaria dormir oito horas por noite, assim não ficaria com essas olheiras mórbidas. Fazer a barba diariamente, usar perfumes caros, manter as unhas sempre aparadas, o cabelo cortado e as roupas engomadas. Não rir de piadas imbecis e aprender a fazer comentários inteligentes sobre coisas idiotas. Parar de usar drogas e passar a aprecias pinturas, ópera e teatro. Eu queria ser um homem mais seguro e honesto, só para ela confiar em mim. Eu a queria tanto que seria melhor que ela não existisse, assim, eu poderia ser eu mesmo, por isso eu a matei.

Robert de Andrade Oliveira

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Cartão atrasado

Antes que eu me perca no labirinto do tempo,
Tentando criar um sistema diferente do convencional,
Onde ele (o tempo) não é importante, mas apenas um detalhe
Que não possa determinar ao certo quando foi,
Por que pode ter sido em qualquer parte do tempo...

Antes que eu deixe esse tempo convencional passar
E acabe perdendo as coisas e, principalmente,
As pessoas que mais amo...
Aceita esse cartão como convencional
Feliz Natal, aniversário ou carnaval!

Fábio Almeida

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Inícios

E então eu acordei e percebi que ele me aborrecia. Há anos ele me fazia feliz. trazia chá ou café na cama, mas hoje acordei percebendo que já fazia duas semanas que ele não fazia questão nem de me cobrir e de me acordar com carinho. Mau sinal.
Eu enjôo fácil das coisas, no início fico com tudo que posso, vou todos os dias ao mesmo café, bebo todos os dias a mesma batida de morango com leite. Mas um dia o gosto do morango com leite me enjoa, mesmo que aquele seja o único lugar do universo que venda batida de morango com leite pelo mesmo preço durante o ano inteiro. Exatamente como se não houvesse época do morango.
E então eu descobri que talvez eu viva de fases e que isso é muito normal. Todos os dias eu acordo pensando no que posso fazer de diferente do que fiz ontem. A primeira coisa é sair ou três horas antes da cama ou um minuto depois, às sete e quarenta e seis, porque ontem foi às sete e quarenta e quatro. Simplesmente me recuso a sair em uma hora tão redonda quanto faltando 1/4 de hora para as oito.
E então eu comecei a fumar e saquei que tudo que a gente precisa pra fazer as coisas se tornarem rotineiras e pararem de incomodar tanto a nossa mente todos os dias é insistindo no que elas têm de ruim. É porque não existe nada pior do que fumar. É uma fumaça quente que invade sua boca e queima seus alvéolos pulmonares e você só precisa ser um pouquinho sensível pra sentir isso. Você tem que insistir no erro.
Mas então não deu pra viciar no que ele me aborrecia. Eu insisti e desisti. Dizem que no início tudo é perfeito. Acho que descobri, então, que eu tinha um único vício que mantinha toda minha rotina e que me trouxe de volta - ainda que apenas por alguns instantes - à realidade e à sanidade: os inícios, eu preciso dos inícios e definitivamente me esqueço de como foram os finais. Sim, senão jamais começaria de novo.

Cind Canuto

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A Fuga

Caí num monte de lixo, era noite, um gato passou por cima de mim, arranhando meu rosto, um gosto ferruginoso enchia minha boca, cuspi, faltava um incisivo, os tornozelos formigavam e os pulsos ardiam nos pontos em que estavam vermelhos pela marca das cordas.

Não dava tempo. Ouvi vozes, passos apressados e cliques de automáticas. Levantei, tropecei numa das latas de lixo e comecei a correr.

Ganhei uma das vielas, tomei o beco à esquerda, entrei num barraco, um velho inchado semi-vivo semi-morto assistia à televisão num sofá de couro velho coberto por uma manta de retalhos coloridos, derrubei uma garrafa e pulei na janela que ficava atrás do velho, caí por mais tempo que esperava, o pé doeu, olhei para cima, pude ver o clarão que saiu do cano pouco antes de ouvir o tiro que pegou na parede ao lado de minha cabeça.

- Pega o desgraçado...

Escorreguei na areia, derrubei um menino que brincava numa bicicleta, a perna ardeu, estava escuro, choro, ganhei outro beco, continuei descendo, ouvia quatro pés correndo de chinelos, deviam ser havaianas, outro estampido, ardor no ombro direito, queimando muito, a boca seca, mais um barracão, família jantando, retrato esmaltado de um casal de negros sobre a janela através da qual saltei, quintal com cachorro preso, latidos, barulho de pratos, panelas, colheres, copos, mesa, gente caindo.

- Sai pra lá velha... Vai que eu já vou. Pega logo o filha da puta, antes que chegue no asfalto!

Gritos de mulher, latidos, algumas bananeiras, corri entre elas, caí num barranco, o gosto de ferrugem continuava, o pé doía, mais um tiro, o pescoço ficou preso, varais, uma laje, mais um salto.

- Tô vendo, tô vendo!

Outro tiro, que passou zunindo e ricocheteou no asfalto que atravessava, as quatro havaianas vinham novamente juntas, mais dois tiros, a panturrilha, não podia parar, minha filha, minha esposa, estava difícil correr, não pagaram o resgate, outra viela muito escura, ratos, ratos, um muro, tentei subir, as havaianas pararam, olhei pra trás, a sombra de dois homens, uma gargalhada, um estampido seco, o gosto de ferrugem.

Barroso da Costa

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Mais uma festona do Tio Camilo

Amigos,

vamos fazer uma festa no Quiantal Pampulha, cedido pelos nossos amigos Nivaldo e Urlenise, para reunir amigos, ouvir musica boa ao vivo (MPB, pop rock e rock classicos), conhecer o novo site da Jararaca Alegre, ganhar exemplares da Jararaca e da revista Os Impublicaveis (os novos parceiros da cobrinha), degustar pratos preparados especialmente para nós, enfim, uma tarde/noite de muita alegria e confraternização.

O Nivaldo preparou um cardápio e vamos ter a participação das bandas Namastê (Flavio Boca e banda) com pop rock e MPB, Alligators (Cabeto e banda), com rock anos 60 e jovem guarda, e canjas das bandas covers de BH.

O convite custará R$ 50,00 e inclui o cardapio anexo, mais as revistas. Como não temos um ponto de vendas, basta depositar o valor na seguinte conta: Banco do Brasil / agência 3014-7/ conta corrente 24137-7, e apresentar o recibo na entrada da festa (será o ingresso). Pedimos confirmar o depósito retornando este e-mail, para que possamos saber ao certo quantas pessoas estarão presentes. Qualquer duvida basta responder este e-mail, e se quiser confirmar presença por telefone basta ligar para o Quintal: (31) 3443-5559 ou comigo: (33) 9191-0021.

Espero contar com você na nossa festa, estamos caprichando muito.
Obrigado e até lá

Camilo Lucas



Cardápio





quinta-feira, 7 de agosto de 2008

4 mini-contos super rápidos

1
Meu amor me deixou no dia do matrimônio.
Ela realmente me amava.
Amava tanto que sabia que casamento não era a minha praia.
2
Sou viciado em Lexotan. O nome deve vir do francês: Le Xoxotan.
Além de calmante, também pode ser a da amante.
3
Quando eu era criança não quis beijar minha avó porque ela era muito enrugada.
“Ô moleque, você ainda vai beijar muita pelanca mais feia e fedida que cara da vovó”, disse-me sabiamente, com um riso frouxo.
4
“Papai, eu vou me casar”.
“Vê se não esquece de dar descarga”.

Robert de Andrade Oliveira.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Fantasma da fome

Um poema de Genecy Santana. Vale muito mais do que o que a gente paga.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Socorro, eu não estou sentindo nada

Tudo havia começado logo pela manhã, enquanto tomava meu café.
Sentia-me meio estranho e, mal levei a xícara à boca, veio uma pontada pouco abaixo das costelas. A dor foi tão aguda que me enverguei, colocando a mão onde eu imaginava ter-se dado a estocada. A xícara quase me escapou.
Endireitei-me, ajeitei a camisa nas calças, bebi meu café num gole, peguei o paletó e tomei o rumo da garagem.
Descendo pelas escadas, notei que o desconforto permanecia. Do lado esquerdo, abaixo das costelas, as coisas não iam bem.
Aquilo me preocupava. Se a coisa se agravasse, talvez nem desse tempo de tomar uma atitude.
Passei pela faxineira, que me cumprimentou. Olhei para ela, letárgico, e balbuciei alguma coisa que estava longe de ser um cumprimento.
Ela perguntou se me sentia bem. Balancei a cabeça, afirmativamente, já entrando no carro.
Fazia calor, mas eu estava frio por dentro.
Afrouxei a gravata e dei a partida.
Saindo da garagem, liguei o rádio. Parecia que as coisas melhoravam. Já respirava melhor.
Cinco quarteirões à frente, uma nova pontada, muito pior que a primeira.
A boca secou instantaneamente. Tinha de voltar para a casa, era minha única esperança.
O suor descia pelas têmporas. Os pensamentos se cruzavam numa velocidade impressionante, mas as pessoas na rua pareciam estar em slow motion. Encerrei-me numa espécie de autismo.
No rádio, a Gal, com sua voz aguda como minha dor, cantava: “Socorro, eu não estou sentindo nada...”.
Tive ódio dela, mas não tinha tempo de tentar desligar o rádio.
Passei por um cruzamento sem parar. Olhando de lado, pude ver um motorista de táxi que lentamente projetou sua cabeça pela janela, ergueu o dedo médio da mão esquerda, mexendo a boca de uma forma raivosa. Mas eu não ouvia nada, além de sons guturais e desconexos.
Eu já quase não conseguia dirigir, meus braços pareciam sem controle. A dor tomava todo meu tórax e minhas entranhas faziam um barulho esquisito, borbulhante.
Comecei a salivar.
Entrei na garagem, parei o carro meio enviesado e subi, cambaleante, as escadas do prédio, sem responder ao que tinha me perguntado a faxineira, que parecia assustada.
Parei diante da porta dos fundos. O molho de chaves teimava em cair das minhas mãos trêmulas e suadas, mas consegui entrar no apartamento e chegar ao banheiro.
Apoiei-me na pia e, semi-consciente, caí sentado no vaso.
Puta-que-pariu, que dor de barriga...

Barroso da Costa

(*) Texto publicado na última edição da revista Jararaca Alegre, by Tio Camilo

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Carta a um amigo descuidado

Prezado Tavinho Lilás,
Veja bem. O Tulinho Fronha não deu uma de homem para entrar no mundo artístico. Ele foi muito homem, pois entrou veado. E continua veado. Ele não é como aqueles veados que dão uma de homem, mas depois, se revelam uns grandes veados.
Se eles fossem homens mesmo, entrariam como homem e continuariam como homem, ou então, fariam como o Tulinho Fronha, entrariam como veados e continuariam como veados. Aí sim, poderíamos dizer que eles eram homens, porque tem que ser muito homem para mostrar logo de cara que não é homem, que é veado.
Quanto a você, por favor, não vá decepcionar-me. Não vá querer dar uma de homem, virando veado, senão todos vão saber que você não é homem, é veado. Já que começou como homem, continue fingindo que é homem, pra ninguém saber que você é veado.
Lembra-se daquele cantor inglês e o trabalhão que ele teve para provar para todo mundo que era veado e ninguém queria aceitar, porque todo mundo queria que ele fosse homem e ele querendo provar para todo mundo que não era homem, que era veado?
Desculpe-me tocar nesse assunto delicado, mas você sabe, se você fosse homem e não veado, o assunto estaria encerrado, mas você dá uma de homem, sendo veado, aí fica complicado.
Espero que siga meus conselhos. Um abraço de seu amigo,
Bezerra Tilão.
Obs: Fique tranqüilo. Na sua casa, todos ainda pensam que você é gato, e não lebre.

Fábio Almeida

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Igualados no verbo


Entre poetas e poesias, lançamos a segunda edição de nossa revista nos jardins internos do Palácio das Artes. Apesar das dificuldades com o patrocínio, sempre contamos com o apoio de amigos engajados como o Camilo Lucas, a Ivete Walty, o Jovino Machado, o Waldemar Euzébio e o Wilmar Silva para seguir impublicando nossos ideais, ainda que eles digam da miséria de um tempo vazio de história, vazio de valores, vazio de velhice. No banheiro, onde despejamos nosso lado mais finito, nos fizemos iguais aos socialmente marginalizados, expondo o verbo que se procura abafar. Sem procuração para isso, procuramos ser a palavra dos que não têm voz, resgatando a beleza do que para muitos é lixo. Reciclados no aniversário de um ano de nosso movimento, vamos fazendo onda entre montanhas, apoiados no texto literário e naqueles que por ele se interessam. Assim, em nosso diário, renovamos o convite a todos aqueles que ainda fiam nesse ideal, tecendo em finas linhas histórias de vida, sejam elas ficção ou realidade. Que venham conosco, resgatar o verbo que hoje é pura carne. Afinal, aqui todo mundo é igual.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Cogumelos alucinógenos na cura da dependência química

- Dizem que estão utilizando cogumelos alucinógenos para o tratamento da dependência química.
- Pois é. O camarada alucina que não é viciado...

Barroso da Costa

quinta-feira, 3 de julho de 2008

terça-feira, 24 de junho de 2008

O Equilibrista

Nosso amor balança na corda-bamba,
Equilibra-se no picadeiro,
Prepara-se para a platéia:
Não mostra as lágrimas
De
nosso
pesadelo
ver
da
dei
ro.

Rafaela Damasceno

segunda-feira, 16 de junho de 2008

O Time do Bairro

Quinique, eu, Valtinho, Pirica, Juninho e Dedé. No banco, Gaia, Cesário e Vovô. Este era o time que defendia as cores de um pequeno bairro, erguido para abrigar os operários de uma siderúrgica francesa que se instalou na década de 40 no interior de Minas Gerais.

Da construção do campo de espetáculo à escalação do time, tudo era festa. Três desciam até a beira do córrego e, munidos com um facão surrupiado da caixa de ferramentas do avô de alguém, tratavam de derrubar os bambus mais grossos. Dois ficavam encarregados de convidar o time do bairro vizinho para a inauguração do campinho, enquanto os demais cuidavam de derrubar um barranco de terra vermelha para providenciar a marcação do palco onde se daria o espetáculo.

Tudo isso começava no sábado pela manhã. Matávamos algumas jararacas e camundongos que infestavam o campo e, após algumas bambuzadas do Gaia em Pirica, além de uma briga de torrões entre Juninho e Valtinho, o cenário já estava pronto. As traves eram tortas, as linhas assimétricas e, a bem da verdade, um time atacava descendo e outro subindo, o que era decisivo no momento do cara ou coroa.

Porém, estas circunstâncias não impediam que, às três e meia da tarde, todos nós fôssemos calçar os meiões que eram de nossos pais ou irmãos mais velhos, os tênis furados e as camisas de nossos times do coração. Faltando mais ou menos quinze minutos para as quatro horas, Pirica aparecia com a rede, que pegava emprestada do pai, e eu com minha bola de couro.

Colocadas as redes, iniciávamos o aquecimento chutando bolas à meta defendida por Quinique. O aquecimento era puxado, já que além de chutar bolas ao gol, tínhamos que pular muros e correr de cachorros para pegar aquelas que caíam nos quintais das casas vizinhas ao estádio. Às vezes, acontecia de quebrar uma janela e a bola não ser devolvida, mas isto não era regra.

O time do bairro vizinho – que nós chamávamos de Bolívia – chegava por volta das quatro horas, bastando isto para que os ânimos se inflamassem e começasse a troca de ofensas, que muitas vezes envolviam a mãe ou a suposta opção sexual do adversário.

Até uma pequena platéia se formava. Nosso público era constituído por uma fauna interessante: uma minoria de colegas, indignados por não integrarem o escrete, além de muitos bêbados, que saíam ou eram despejados do bar ao lado, de onde eram habitués.

Bola rolando, alegria do povo, começava o espetáculo.

Acho que Quinique foi o arqueiro mais vazado que conheci, mas o time contava com a habilidade de Dedé, além da velocidade dos pontas Juninho e Valtinho, que, entre overlappings e rabos de vaca, conseguiam vencer a defesa contrária. Eu ficava responsável pela parte burocrática da organização das jogadas, enquanto a Pirica incumbia tirar as bolas do ataque adversário, a qualquer custo.

A partida nem sempre chegava ao fim de forma natural. Muitas vezes, passava-se do futebol ao caratê em questão de segundos. Ainda não conhecíamos o fair play. Era sopapo pra todo lado, inclusive entre craques do mesmo time. O embate só acabava quando uma das mães dos já então caratecas chegava à beira do campo desesperada, já que tinha ido chamar um dos jogadores para jantar e acabou se deparando com um combate de luta livre, em que não se vedava a utilização nem mesmo dos bambus das traves ou das pedras que seguravam as redes.

Findo o confronto, o time que estava perdendo já marcava a revanche, com promessas de que o placar ia ser revertido, tanto o da partida de futebol, quanto o do embate físico.

Se íamos vencer a próxima, não sabíamos. Só tínhamos a certeza de que, por volta das sete horas da noite, após o jantar, estaríamos no banco da pracinha do bairro, fazendo a resenha das jogadas e dos socos, já planejando as estratégias para a partida do dia seguinte.

Àquela época, esta era nossa única e doce preocupação.


Barroso da Costa

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Sem título

Nada como um dia atrás do outro
Nada como um dia atrás de uma noite
Nada como um céu atrás da nuvem
Nada como um olho atrás da lente
Nada como uma vassoura atrás da porta
Nada como um beijo atrás do portão
Nada como um tesouro atrás do arco-íris
Nada como um "m" atrás de um "b"
Nada como eu atrás de você.

Camilo Lucas

terça-feira, 27 de maio de 2008

Competências

A garota de programa é aquela que cobra pelo que as outras fazem de graça;
O assaltante é o político autônomo, sem vínculo partidário e que não tem a profissão reconhecida;
O policial é aquele cuja farda lhe dá super-poderes, no entanto, ele quase sempre os usa de forma errada;
O político é aquele que cobra pelo que não fez e recebe pelo que deixou de fazer;
O advogado é aquele que cobra para fazer o óbvio que só o advogado sabe fazer;
A socialite é aquela cujas cicatrizes na tez e no resto são chamadas de nova silhueta nas colunas sociais;
O sindicato de hoje é o superlativo pejorativo do síndico rabugento do prédio onde moro;
O escritor é aquele que conta mentiras sem ser julgado, pelo contrário, às vezes até recebe por isso;
O médico é aquele que burocratiza as doenças;
O fumante é aquele que morreu de medo do câncer, embora não o tivesse;
O agiota é só um banco clandestino;
O professor é o aluno dedicado que está sempre disposto a passar cola;
Deus é aquele que inventou o mundo e nunca mais deu manutenção.

Robert de Andrade Oliveira

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Tião, nosso amigo, nosso irmão!

A história é a seguinte. No final dos anos 70, todas as vezes que passava de ônibus próximo a um conjunto habitacional, construído pouco antes do final daquela década, algumas frases chamavam-me a atenção, pichadas nas paredes dos prédios. Seria um fato comum, se não fosse os dizeres das frases que apareciam assim, nas fachadas da frente do condomínio:
_ “Tião, nosso amigo, nosso irmão!”
_ “Tião, não nos abandone!”
_ “Tião, não nos deixe!”
_ “Volta, Tião!”
Qualquer indivíduo de passagem, que lesse por ler aquelas frases, poderia pensar em alguém muito querido que se mudou ou quem sabe, até morreu, mas que recebia aquela homenagem de pessoas que muito lhe queriam bem.
Porém, aí é que o episódio fica intrigante e curioso, porque, quando o ônibus fazia a curva na esquina do tal condomínio, um observador mais atento poderia ler uma frase curta, escrita numa das paredes do lado de trás de um dos prédios, que contradizia todas as mensagens nas paredes da frente. Lá dizia, simplesmente:
_ “Tião ladrão!”
É lógico que, a princípio, ninguém entendia nada. Eu, muito menos, mas, muito enxerido que sou, não sosseguei até conseguir saber, por intermédio de um morador do condomínio, o que de fato representavam aquelas mensagens.
Foi o seguinte: inaugurado o conjunto habitacional, nomearam um cidadão, muito simpático, esclarecido, de boa conversa, para síndico de todos os prédios do conjunto: Tião. Isso era comum naquele tempo. Dessa forma, Tião administrou o condomínio sem a interferência dos moradores, que confiavam piamente no simpático síndico.
Até que um dia, Tião sumiu, e ninguém soube informar o paradeiro dele, fato que gerou estranheza em todos, mas que logo em seguida ficou esclarecido, quando começaram a "estourar" as cobranças de água, luz e outras despesas que se encontravam atrasadas, porque Tião havia abandonado o conjunto habitacional, fugindo da cidade, levando consigo quase um ano de arrecadação de condomínio.
Daí os jovens, cujos pais perderam dinheiro, não perderam o humor, prestando quantas homenagens couberam nos muros dos prédios. De onde se lia:
_ "Tião, nosso amigo, nosso irmão; Tião, não nos abandone; Tião não nos deixe; Volta Tião; ...Tião ladrão!"

Fábio Almeida

segunda-feira, 5 de maio de 2008

A adega

Caeté, pequena cidade histórica localizada a 60 km de BH, tem um povo simpático e muitos casos e histórias. Alguns hilariantes, outros, interessantes.
Um bem curtinho, refere-se a um bar que em certa época, fazia o maior sucesso na cidade. Ponto certo e passagem obrigatória de nove entre dez jovens – e adultos também –, nos finais de semana da cidade.
Seu nome, Adega Estoril, um verdadeiro complexo festeiro sob a administração de portugueses, que reunia casa de festas, restaurante e hotel/motel – só não havia espaço para velórios, embora o povo diga que este anexo seria o próximo empreendimento dos lusitanos. Sensação da noite caeteense, o lugar era bem freqüentado e por lá desfilava a nata da sociedade local – além do Babão, do Káji e do Boto, é claro –, até o fatídico dia em que, por negligência, alguém deixou um botijão de gás aberto na cozinha.
Naquele sábado, Feijão – o cozinheiro – chegou para trabalhar meio atordoado, acometido que estava por uma forte rinite alérgica. Sem sentir o cheiro do gás que já escapava desde a madrugada anterior, foi acender o fogão – ou foi um cigarro? –, causando uma enorme explosão, que ficou registrada nos anais e também nas paredes do estabelecimento. Foi trágico e triste, mas felizmente – tirando a surdez de Feijão e da noiva cuja festa ocorria no salão ao lado –, não foram registrados maiores danos a pessoas, sendo verificados prejuízos meramente materiais.
Mas a Adega Estoril reabriu as portas, tempos depois, tentando recuperar seu prestígio com os antigos clientes. Não conseguiu. A juventude irreverente selou seu destino, passando a chamá-la de "Adega Explodiu".
Tornando-se motivo de chacota, a casa noturna nunca mais foi a mesma e acabou fechando suas portas, encerrando um ciclo comercial bem sucedido, na simpática cidade de Caeté.
Eu não sei, só sei que foi assim...

Fábio Almeida e Barroso da Costa

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Enquanto isso, no trânsito de Belo Horizonte...

Dirigindo pelas ruas de BH, fico pensando o significado de um simples gesto, ou melhor, de uma simples omissão: o motorista da capital mineira já não dá seta para alertar os demais usuários das vias públicas sobre suas manobras de conversão. Aliás, este descaso com os que convivem no trânsito já vem sendo apontado como característica do motorista belorizontino.
Mas não é a única. A esta idiossincrasia somaria a mania de fechar cruzamentos, de acelerar quando alguém dá seta (?) e pede passagem – vai ver que é por isso que ninguém mais usa a tal alavanca da esquerda –, ou a nova onda, muito apreciada por motoristas de ônibus, que consiste em avançar sinais recém avermelhados. É isto mesmo, não me avisaram, mas parece que o antigo sinal amarelo foi substituído pelo que eu chamaria de “vermelhinho” (“Mas ele tinha acabado de ficar vermelho, seu guarda!).
E as filas duplas nas portas de escolinhas e colégios freqüentados pelos filhotes da classe média alta da Tradicional Família Mineira? Quem nunca viu a Av. do Contorno engarrafada e, depois de meia hora retido entre a Av. Amazonas e a trincheira, pôde ver a doce cena de uma mamãe deixado seu pimpolho de mais ou menos dezessete anos na porta de um colégio ali instalado? E aqui só se fala de um colégio...
Acho que o descuido com a seta diz muito do motorista e, a meu ver, diz mais ainda do sujeito que se posiciona entre o banco e o volante de um carro. Atrás dessa simples e habitual omissão pode-se antever alguém que não enxerga para além do próprio umbigo; que se acha soberano a ponto de não precisar anunciar seus movimentos àqueles que com ele dividem o direito de se locomover no trânsito com segurança. Quanto aos que se dedicam a fechar cruzamentos, mostram-se egoístas e infantis a ponto de pensarem que, se eles não podem ir, o resto da cidade também ao pode. Já com relação aos dirigidores de veículos pesados que avançam sinais “vermelhinhos”, para mim, não passam de covardes, porque certamente não fariam isso com tanta arrogância se estivessem montados numa motocicleta.
Ah!!! E há os motoqueiros, que merecem um texto à parte, tamanho o prazer que traz o convívio diário com seus abusos... Quanto a esta classe especial, neste momento, eu me limito a chamar a atenção para um vezo que marca seus integrantes: já repararam na mania dos motociclistas de, enfileirados logo embaixo do sinal, ficarem admirando as “máquinas” uns dos outros? Não sei, mas a impressão que dá é que eles olham para ver qual é maior...

Barroso da Costa

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Aqui!


Nada mais impublicável que uma publicação no sangrento Aqui. Veja o texto com trato completo na coluna do Barroso.

sábado, 12 de abril de 2008

Sábado sem sexta

Este é um texto que deveria ter sido escrito pelo Fábio Almeida.

Trabalhar aos sábados é algo deprimente, e a depressão bate forte por volta de uma da tarde. Melhor seria ter que recusar as ligações da esposa para não ter que inventar mais uma desculpa para continuar bebendo com os amigos. Trocar o frango com quiabo e a coca-cola por uma porção de azeitona com algumas cervejas geladas. Mas dá-lhe trabalho e o sábado se torna uma segunda-feira piorada, pois no primeiro dia útil da semana a maioria das pessoas está na labuta, ressaqueadas ou não. Sinto-me como se só eu trabalhasse no sábado, que, por sua vez, não é como a sexta-feira, afinal o happy hour foi ontem e não fui por que tinha de acordar cedo no dia seguinte.
Fico pensando comigo: se deixar o serviço nesse dia, pelo menos por enquanto, é impossível, melhor seria que as repartições públicas, escolas, indústrias, enfim, tudo que não funciona aos sábados, passasse a funcionar. Assim ficaríamos um dia a mais sem beber, pois a cervejinha da sexta só seria degustada no dia seguinte e com muito mais gosto.

Robert de Andrade Oliveira

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Demo-cracia

"Democracia é quando eu mando..."

A maior parte das pessoas que conheço é antidemocrata, pelo menos dentre as pessoas que tem alguma noção do que é democracia, por mais absurdo que pareça. Essa é uma avaliação democrática, pois valoriza uma maioria. Porém o resultado de uma maioria antidemocrática não deveria ser uma democracia. Não, só não seria uma democracia se fosse por uma resolução democrática. Tem o que merece essa maioria: uma solução antidemocrática que é a democracia. E eu, que acredito em democracia, e acredito na maioria, não me tornei por causa dela uma antidemocrata como a maioria que conheço e que não deve ser a maioria das pessoas do mundo inteiro. Espero que não, senão será esse mais um dos paradoxos que assolam minha existência e serei eu, em maioria de mim, paradoxal.
Cind Canuto

quarta-feira, 9 de abril de 2008

A ponto de explodir

Ontem estivemos A Ponto de Explodir, foi na Casa dos Contos no lançamento de mais um livro do camarada Sérgio Fantini. Já começamos a nos arriscar pelo texto citadino e imprevisível...
Tenha cuidado, mas não deixe de correr esse risco.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Foi assim...

Bem, “...eu num sei, só sei que foi assim...”
Parte de um segmento da sociedade mineira resolveu promover um mega evento, sem motivo, na zona nobre da periferia de Belo Horizonte.
Sem citar nomes, para não gerar possíveis processos futuros, segue um relato fiel dos sucessivos episódios que marcaram o evento. Evento este que, graças a Deus, não terminou em morte.
Tudo foi idealizado por um grupo de intelectuais e investidores que, reunidos num boteco da periferia da princesinha de Belo Horizonte – “New Gaymeleira” –, resolveu promover um super evento que ficaria registrado nos anais da sociedade belorizontina.
O próprio grupo nomeou-se comissão, a famosa comissão de organização, formada pelo diretor-geral, que ficou encarregado da logística do evento, o diretor financeiro, que, claro, ficou encarregado das finanças, a diretora social, que ficou responsável pelos contatos sociais e lista de convidados, e a assessoria de comunicação – uma repórter picareta, diga-se de passagem, que ficou encarregada de fazer a divulgação do evento, contato com autoridades, convidados especiais etc.
A maquete ficou linda de morrer, só “cê” vendo. Os fundos, caixa 2, foram arrecadados com uma grande empresa – fantasma – de representação de madeira, localizada nas imediações do aeroporto, próximo à Av. Vilarinho, e com uma sólida firma clandestina de calhas e baldes/chuveiros, que inovava em tecnologia, mas não tinha endereço fixo.
Quando tudo parecia encaminhando para a realização, com sucesso, da grande festa, as ocorrências começaram a suceder.
Primeiramente, os patrocinadores – aquelas duas empresas – não honraram com 100%, aliás, nem 10% dos compromissos firmados. O diretor financeiro – que se soube depois, já tinha se envolvido na operação “Anaconda” – fugiu para Manaus com a outra parte da arrecadação, num vôo corujão da Varig, cuja passagem custou R$ 1,00, paga com o dinheiro surrupiado do evento.
A assessora de eventos “cagou goma”, falou que usaria de influências e prometeu levar o elenco da “Grande Família” para filmar um episódio durante o evento, bem como a Regina Casé para fazer, ao vivo, o seu programa “Central da Periferia”.
“Nem Sansão nem Dalila”, quem ela trouxe na ultima hora foi a charanga de um time de várzea, e uma Kombi cheia de representantes dessa torcida – só “a nata” –, que comeram, beberam e ainda fizeram um arrastão que não sobrou nem documento nem bijuteria, pois jóia e dinheiro, o povo que tava na festa também não tinha.
A lingüiça toscana, de R$2,30, o quilo, e os três quilos de acém, fazendo as vezes de picanha, acabaram no primeiro quarto de hora. O que era para ser Bohemia, mas foi Skin o tempo todo, secou na segunda rodada, porém há quem afirme ter visto um dos organizadores colocando duas grades cheias de cerveja no porta malas de uma Belina. W, azul, blindada.
A diretora social, que ficou de recolher uma contribuição simbólica dos convidados, tomou oito garrafas de Nova Skin sozinha, ficou “acompanhada”, deixou “os” povo ir embora sem contribuir, e ainda levar cinco facas de R$1,99.
O dono do estabelecimento – o bar próximo –, que forneceu as guarnições para o evento, apareceu lá pelas tantas, querendo receber o combinado, e quando constatou que não ia ver a cor do numerário, começou um brigão – Deus me livre –, que envolveu todo mundo e ficou mais agitado que o arrastão da torcida organizada.
A estripulia só terminou com a chegada de duas viaturas e os “pulícia” distribuindo “carinho” pra todo lado. O furdúncio foi dispersado, os lideres do movimento enquadrados em três artigos contra a ordem pública. Levaram os dois diretores, que dizem, é um casal, para Lagoinha, onde os mesmos prestaram depoimento, “tocaram piano”, pagaram fiança (deixaram um “bom para...”), com direito a responderem ao processo em liberdade.
Ah! A repórter, aquela, deu um carteiraço na hora do brigão, saiu de fininho, pegou um metrô e foi parar lá na Vilarinho, onde pediu guarida pro dono daquela empresa de representação de madeira, até a poeira baixar.
Tudo isso, dizem, no fatídico domingo de 10 de setembro de 2006.
Bem, “... eu num sei não, só sei que foi assim...”


Fábio Almeida

terça-feira, 1 de abril de 2008

De mãos dadas com o vazio

E, de projetos em projetos grandiosos, totalitários, um dia a gente descobre que o único objetivo realmente importante é o que diz do cuidadoso cultivo de um vazio que insiste em nos habitar, e que nos acompanhará para sempre, como uma sombra que confirma nossa cindida existência.

Barroso da Costa

sexta-feira, 28 de março de 2008

O cigarro mata, inclusive o tédio


(...) E a gente vai fumando,
porque sem o cigarro
ninguém segura esse rojão (...)

Chico Buarque

Que o cigarro mata, já estou cansado de saber. Sei também que a gordura obstrui as coronárias, que álcool dá cirrose, ressaca, tagarelice crônica e encorajamento nas horas erradas; segundo Edir Macedo sexo é sujo e faz mal para a alma. Muita coisa faz mal, a hipocrisia, por exemplo, vira um câncer que começa como algo inofensivo, mas em pouco tempo dá metástase, comprometendo áreas como a ética, bom-senso e, nos casos tópicos, carcome rapidamente a vergonha na cara. Contudo o que mais incomoda é o cigarro, para ser mais exato, sua fumaça. Há alguns anos eu pensava que o aumento da frota de veículos nas ruas e o crescimento do setor industrial no nosso país, responsáveis pelos elevados níveis de poluentes nos centros urbanos, fosse fazer com que os incomodados com a fumaça alheia mudassem o foco. Mas não foi bem isso que aconteceu, há quem prefira meter o nariz no cano de descarga de um Feneme 69 que aturar por dez segundos a fumacinha do meu cigarro enquanto espero o sinal para pedestre abrir.
“Os tempos mudaram”, dizem os fumantes mais antigos. Meu avô achava lindo as mulheres fumando, principalmente no cinema. Agora, só os vilões da novela das oito fumam. Antes não se morria tanto de câncer causado pelo cigarro, e não é porque eles estão aumentando os índices de substâncias tóxicas – elas sempre existiram, muitas vezes em uma quantidade maior que a de hoje. O que mata é a soma do tabaco com a gordura, com o açúcar, o álcool, enfim, o sedentarismo, e conforme relatam, não é nada bom morrer assim, mas também não é pior do que morrer de tédio e privação.
Foi-se o tempo em que o tabaco não matava e no qual, como conta um amigo meu, não tinha essa de comover o pai pedindo para ele parar de fumar. Enquanto hoje os olhos enchem de lágrimas ao ouvir o pedido do moleque, meu amigo ouviu do pai um “vai cagar, menino” e descobriu que fumar era coisa de quem sabe e pode responder pelos seus atos. E não é tão difícil ensinar aos filhos que eles não devem fumar antes de poderem responder por eles mesmos. Outro dia, minha filha de três anos me perguntou por que eu fumo, respondi: “fumo porque sou adulto e você não é, logo você não precisa se preocupar com isso tão cedo”.
Fumo pra pensar, pra relaxar, pra cagar, pra beber e até pra morrer, pois sou adulto e respondo pelos meus atos. E quanto aos que morrem de hamburger, ninguém vai fazer nada?

Robert de Andrade Oliveira

quinta-feira, 27 de março de 2008

Agenda

Minha agenda já foi um lugar em que eu anotava coisas que eu tinha que fazer no dia e fazia. Efetivamente fazia.
Juliana sempre me mandava procurar por coisas que efetivamente funcionassem. Muitas palavras compostas de forma pomposa e que não passavam de um belo pleonasmo. Juliana disse que já tinha esquecido o que significava pleonasmo. Eu, que não tenho o costume de esquecer, tive que propor uma desculpa para ela, como se faz por polidez. Procurei bem e me dei conta de que eu não me recordava mais do delta daquela equação... E veja só! não me recordo também do nome da equação. Há coisas que são ótimas de se esquecer.
Hoje eu ainda anoto na agenda as coisas que tenho que fazer no dia, mas não preciso dela mais. O duro tem sido mesmo é esquecer. Equação do segundo grau, delta é igual a "b" ao quadrado menos quatro "a" vezes "c".

Cind Canuto