segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A Fuga

Caí num monte de lixo, era noite, um gato passou por cima de mim, arranhando meu rosto, um gosto ferruginoso enchia minha boca, cuspi, faltava um incisivo, os tornozelos formigavam e os pulsos ardiam nos pontos em que estavam vermelhos pela marca das cordas.

Não dava tempo. Ouvi vozes, passos apressados e cliques de automáticas. Levantei, tropecei numa das latas de lixo e comecei a correr.

Ganhei uma das vielas, tomei o beco à esquerda, entrei num barraco, um velho inchado semi-vivo semi-morto assistia à televisão num sofá de couro velho coberto por uma manta de retalhos coloridos, derrubei uma garrafa e pulei na janela que ficava atrás do velho, caí por mais tempo que esperava, o pé doeu, olhei para cima, pude ver o clarão que saiu do cano pouco antes de ouvir o tiro que pegou na parede ao lado de minha cabeça.

- Pega o desgraçado...

Escorreguei na areia, derrubei um menino que brincava numa bicicleta, a perna ardeu, estava escuro, choro, ganhei outro beco, continuei descendo, ouvia quatro pés correndo de chinelos, deviam ser havaianas, outro estampido, ardor no ombro direito, queimando muito, a boca seca, mais um barracão, família jantando, retrato esmaltado de um casal de negros sobre a janela através da qual saltei, quintal com cachorro preso, latidos, barulho de pratos, panelas, colheres, copos, mesa, gente caindo.

- Sai pra lá velha... Vai que eu já vou. Pega logo o filha da puta, antes que chegue no asfalto!

Gritos de mulher, latidos, algumas bananeiras, corri entre elas, caí num barranco, o gosto de ferrugem continuava, o pé doía, mais um tiro, o pescoço ficou preso, varais, uma laje, mais um salto.

- Tô vendo, tô vendo!

Outro tiro, que passou zunindo e ricocheteou no asfalto que atravessava, as quatro havaianas vinham novamente juntas, mais dois tiros, a panturrilha, não podia parar, minha filha, minha esposa, estava difícil correr, não pagaram o resgate, outra viela muito escura, ratos, ratos, um muro, tentei subir, as havaianas pararam, olhei pra trás, a sombra de dois homens, uma gargalhada, um estampido seco, o gosto de ferrugem.

Barroso da Costa

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Mais uma festona do Tio Camilo

Amigos,

vamos fazer uma festa no Quiantal Pampulha, cedido pelos nossos amigos Nivaldo e Urlenise, para reunir amigos, ouvir musica boa ao vivo (MPB, pop rock e rock classicos), conhecer o novo site da Jararaca Alegre, ganhar exemplares da Jararaca e da revista Os Impublicaveis (os novos parceiros da cobrinha), degustar pratos preparados especialmente para nós, enfim, uma tarde/noite de muita alegria e confraternização.

O Nivaldo preparou um cardápio e vamos ter a participação das bandas Namastê (Flavio Boca e banda) com pop rock e MPB, Alligators (Cabeto e banda), com rock anos 60 e jovem guarda, e canjas das bandas covers de BH.

O convite custará R$ 50,00 e inclui o cardapio anexo, mais as revistas. Como não temos um ponto de vendas, basta depositar o valor na seguinte conta: Banco do Brasil / agência 3014-7/ conta corrente 24137-7, e apresentar o recibo na entrada da festa (será o ingresso). Pedimos confirmar o depósito retornando este e-mail, para que possamos saber ao certo quantas pessoas estarão presentes. Qualquer duvida basta responder este e-mail, e se quiser confirmar presença por telefone basta ligar para o Quintal: (31) 3443-5559 ou comigo: (33) 9191-0021.

Espero contar com você na nossa festa, estamos caprichando muito.
Obrigado e até lá

Camilo Lucas



Cardápio





quinta-feira, 7 de agosto de 2008

4 mini-contos super rápidos

1
Meu amor me deixou no dia do matrimônio.
Ela realmente me amava.
Amava tanto que sabia que casamento não era a minha praia.
2
Sou viciado em Lexotan. O nome deve vir do francês: Le Xoxotan.
Além de calmante, também pode ser a da amante.
3
Quando eu era criança não quis beijar minha avó porque ela era muito enrugada.
“Ô moleque, você ainda vai beijar muita pelanca mais feia e fedida que cara da vovó”, disse-me sabiamente, com um riso frouxo.
4
“Papai, eu vou me casar”.
“Vê se não esquece de dar descarga”.

Robert de Andrade Oliveira.