sexta-feira, 30 de maio de 2008

Sem título

Nada como um dia atrás do outro
Nada como um dia atrás de uma noite
Nada como um céu atrás da nuvem
Nada como um olho atrás da lente
Nada como uma vassoura atrás da porta
Nada como um beijo atrás do portão
Nada como um tesouro atrás do arco-íris
Nada como um "m" atrás de um "b"
Nada como eu atrás de você.

Camilo Lucas

terça-feira, 27 de maio de 2008

Competências

A garota de programa é aquela que cobra pelo que as outras fazem de graça;
O assaltante é o político autônomo, sem vínculo partidário e que não tem a profissão reconhecida;
O policial é aquele cuja farda lhe dá super-poderes, no entanto, ele quase sempre os usa de forma errada;
O político é aquele que cobra pelo que não fez e recebe pelo que deixou de fazer;
O advogado é aquele que cobra para fazer o óbvio que só o advogado sabe fazer;
A socialite é aquela cujas cicatrizes na tez e no resto são chamadas de nova silhueta nas colunas sociais;
O sindicato de hoje é o superlativo pejorativo do síndico rabugento do prédio onde moro;
O escritor é aquele que conta mentiras sem ser julgado, pelo contrário, às vezes até recebe por isso;
O médico é aquele que burocratiza as doenças;
O fumante é aquele que morreu de medo do câncer, embora não o tivesse;
O agiota é só um banco clandestino;
O professor é o aluno dedicado que está sempre disposto a passar cola;
Deus é aquele que inventou o mundo e nunca mais deu manutenção.

Robert de Andrade Oliveira

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Tião, nosso amigo, nosso irmão!

A história é a seguinte. No final dos anos 70, todas as vezes que passava de ônibus próximo a um conjunto habitacional, construído pouco antes do final daquela década, algumas frases chamavam-me a atenção, pichadas nas paredes dos prédios. Seria um fato comum, se não fosse os dizeres das frases que apareciam assim, nas fachadas da frente do condomínio:
_ “Tião, nosso amigo, nosso irmão!”
_ “Tião, não nos abandone!”
_ “Tião, não nos deixe!”
_ “Volta, Tião!”
Qualquer indivíduo de passagem, que lesse por ler aquelas frases, poderia pensar em alguém muito querido que se mudou ou quem sabe, até morreu, mas que recebia aquela homenagem de pessoas que muito lhe queriam bem.
Porém, aí é que o episódio fica intrigante e curioso, porque, quando o ônibus fazia a curva na esquina do tal condomínio, um observador mais atento poderia ler uma frase curta, escrita numa das paredes do lado de trás de um dos prédios, que contradizia todas as mensagens nas paredes da frente. Lá dizia, simplesmente:
_ “Tião ladrão!”
É lógico que, a princípio, ninguém entendia nada. Eu, muito menos, mas, muito enxerido que sou, não sosseguei até conseguir saber, por intermédio de um morador do condomínio, o que de fato representavam aquelas mensagens.
Foi o seguinte: inaugurado o conjunto habitacional, nomearam um cidadão, muito simpático, esclarecido, de boa conversa, para síndico de todos os prédios do conjunto: Tião. Isso era comum naquele tempo. Dessa forma, Tião administrou o condomínio sem a interferência dos moradores, que confiavam piamente no simpático síndico.
Até que um dia, Tião sumiu, e ninguém soube informar o paradeiro dele, fato que gerou estranheza em todos, mas que logo em seguida ficou esclarecido, quando começaram a "estourar" as cobranças de água, luz e outras despesas que se encontravam atrasadas, porque Tião havia abandonado o conjunto habitacional, fugindo da cidade, levando consigo quase um ano de arrecadação de condomínio.
Daí os jovens, cujos pais perderam dinheiro, não perderam o humor, prestando quantas homenagens couberam nos muros dos prédios. De onde se lia:
_ "Tião, nosso amigo, nosso irmão; Tião, não nos abandone; Tião não nos deixe; Volta Tião; ...Tião ladrão!"

Fábio Almeida

segunda-feira, 5 de maio de 2008

A adega

Caeté, pequena cidade histórica localizada a 60 km de BH, tem um povo simpático e muitos casos e histórias. Alguns hilariantes, outros, interessantes.
Um bem curtinho, refere-se a um bar que em certa época, fazia o maior sucesso na cidade. Ponto certo e passagem obrigatória de nove entre dez jovens – e adultos também –, nos finais de semana da cidade.
Seu nome, Adega Estoril, um verdadeiro complexo festeiro sob a administração de portugueses, que reunia casa de festas, restaurante e hotel/motel – só não havia espaço para velórios, embora o povo diga que este anexo seria o próximo empreendimento dos lusitanos. Sensação da noite caeteense, o lugar era bem freqüentado e por lá desfilava a nata da sociedade local – além do Babão, do Káji e do Boto, é claro –, até o fatídico dia em que, por negligência, alguém deixou um botijão de gás aberto na cozinha.
Naquele sábado, Feijão – o cozinheiro – chegou para trabalhar meio atordoado, acometido que estava por uma forte rinite alérgica. Sem sentir o cheiro do gás que já escapava desde a madrugada anterior, foi acender o fogão – ou foi um cigarro? –, causando uma enorme explosão, que ficou registrada nos anais e também nas paredes do estabelecimento. Foi trágico e triste, mas felizmente – tirando a surdez de Feijão e da noiva cuja festa ocorria no salão ao lado –, não foram registrados maiores danos a pessoas, sendo verificados prejuízos meramente materiais.
Mas a Adega Estoril reabriu as portas, tempos depois, tentando recuperar seu prestígio com os antigos clientes. Não conseguiu. A juventude irreverente selou seu destino, passando a chamá-la de "Adega Explodiu".
Tornando-se motivo de chacota, a casa noturna nunca mais foi a mesma e acabou fechando suas portas, encerrando um ciclo comercial bem sucedido, na simpática cidade de Caeté.
Eu não sei, só sei que foi assim...

Fábio Almeida e Barroso da Costa