quarta-feira, 30 de julho de 2008

Fantasma da fome

Um poema de Genecy Santana. Vale muito mais do que o que a gente paga.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Socorro, eu não estou sentindo nada

Tudo havia começado logo pela manhã, enquanto tomava meu café.
Sentia-me meio estranho e, mal levei a xícara à boca, veio uma pontada pouco abaixo das costelas. A dor foi tão aguda que me enverguei, colocando a mão onde eu imaginava ter-se dado a estocada. A xícara quase me escapou.
Endireitei-me, ajeitei a camisa nas calças, bebi meu café num gole, peguei o paletó e tomei o rumo da garagem.
Descendo pelas escadas, notei que o desconforto permanecia. Do lado esquerdo, abaixo das costelas, as coisas não iam bem.
Aquilo me preocupava. Se a coisa se agravasse, talvez nem desse tempo de tomar uma atitude.
Passei pela faxineira, que me cumprimentou. Olhei para ela, letárgico, e balbuciei alguma coisa que estava longe de ser um cumprimento.
Ela perguntou se me sentia bem. Balancei a cabeça, afirmativamente, já entrando no carro.
Fazia calor, mas eu estava frio por dentro.
Afrouxei a gravata e dei a partida.
Saindo da garagem, liguei o rádio. Parecia que as coisas melhoravam. Já respirava melhor.
Cinco quarteirões à frente, uma nova pontada, muito pior que a primeira.
A boca secou instantaneamente. Tinha de voltar para a casa, era minha única esperança.
O suor descia pelas têmporas. Os pensamentos se cruzavam numa velocidade impressionante, mas as pessoas na rua pareciam estar em slow motion. Encerrei-me numa espécie de autismo.
No rádio, a Gal, com sua voz aguda como minha dor, cantava: “Socorro, eu não estou sentindo nada...”.
Tive ódio dela, mas não tinha tempo de tentar desligar o rádio.
Passei por um cruzamento sem parar. Olhando de lado, pude ver um motorista de táxi que lentamente projetou sua cabeça pela janela, ergueu o dedo médio da mão esquerda, mexendo a boca de uma forma raivosa. Mas eu não ouvia nada, além de sons guturais e desconexos.
Eu já quase não conseguia dirigir, meus braços pareciam sem controle. A dor tomava todo meu tórax e minhas entranhas faziam um barulho esquisito, borbulhante.
Comecei a salivar.
Entrei na garagem, parei o carro meio enviesado e subi, cambaleante, as escadas do prédio, sem responder ao que tinha me perguntado a faxineira, que parecia assustada.
Parei diante da porta dos fundos. O molho de chaves teimava em cair das minhas mãos trêmulas e suadas, mas consegui entrar no apartamento e chegar ao banheiro.
Apoiei-me na pia e, semi-consciente, caí sentado no vaso.
Puta-que-pariu, que dor de barriga...

Barroso da Costa

(*) Texto publicado na última edição da revista Jararaca Alegre, by Tio Camilo

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Carta a um amigo descuidado

Prezado Tavinho Lilás,
Veja bem. O Tulinho Fronha não deu uma de homem para entrar no mundo artístico. Ele foi muito homem, pois entrou veado. E continua veado. Ele não é como aqueles veados que dão uma de homem, mas depois, se revelam uns grandes veados.
Se eles fossem homens mesmo, entrariam como homem e continuariam como homem, ou então, fariam como o Tulinho Fronha, entrariam como veados e continuariam como veados. Aí sim, poderíamos dizer que eles eram homens, porque tem que ser muito homem para mostrar logo de cara que não é homem, que é veado.
Quanto a você, por favor, não vá decepcionar-me. Não vá querer dar uma de homem, virando veado, senão todos vão saber que você não é homem, é veado. Já que começou como homem, continue fingindo que é homem, pra ninguém saber que você é veado.
Lembra-se daquele cantor inglês e o trabalhão que ele teve para provar para todo mundo que era veado e ninguém queria aceitar, porque todo mundo queria que ele fosse homem e ele querendo provar para todo mundo que não era homem, que era veado?
Desculpe-me tocar nesse assunto delicado, mas você sabe, se você fosse homem e não veado, o assunto estaria encerrado, mas você dá uma de homem, sendo veado, aí fica complicado.
Espero que siga meus conselhos. Um abraço de seu amigo,
Bezerra Tilão.
Obs: Fique tranqüilo. Na sua casa, todos ainda pensam que você é gato, e não lebre.

Fábio Almeida

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Igualados no verbo


Entre poetas e poesias, lançamos a segunda edição de nossa revista nos jardins internos do Palácio das Artes. Apesar das dificuldades com o patrocínio, sempre contamos com o apoio de amigos engajados como o Camilo Lucas, a Ivete Walty, o Jovino Machado, o Waldemar Euzébio e o Wilmar Silva para seguir impublicando nossos ideais, ainda que eles digam da miséria de um tempo vazio de história, vazio de valores, vazio de velhice. No banheiro, onde despejamos nosso lado mais finito, nos fizemos iguais aos socialmente marginalizados, expondo o verbo que se procura abafar. Sem procuração para isso, procuramos ser a palavra dos que não têm voz, resgatando a beleza do que para muitos é lixo. Reciclados no aniversário de um ano de nosso movimento, vamos fazendo onda entre montanhas, apoiados no texto literário e naqueles que por ele se interessam. Assim, em nosso diário, renovamos o convite a todos aqueles que ainda fiam nesse ideal, tecendo em finas linhas histórias de vida, sejam elas ficção ou realidade. Que venham conosco, resgatar o verbo que hoje é pura carne. Afinal, aqui todo mundo é igual.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Cogumelos alucinógenos na cura da dependência química

- Dizem que estão utilizando cogumelos alucinógenos para o tratamento da dependência química.
- Pois é. O camarada alucina que não é viciado...

Barroso da Costa

quinta-feira, 3 de julho de 2008