Eu queria ser mais bonito só para ela me perceber, na verdade nem precisava ser muito atraente, bastava ela achar isso de mim. Queria que seus óvulos só pudessem ser fecundados pelos meus espermatozóides. Meu pau devia ter uma pinta saliente na ponta para lhe proporcionar um prazer inigualável, e que ele ficasse duro o tempo todo quando ela estivesse por perto. Não queria ter medo de ratos e poder matar dezenas deles aos bicudos para protegê-la. Precisava ser mais inteligente, para ter um emprego melhor, ganhar mais e poder jogar fora o rote e implantar dentes de louça. Fazer um transplante de cabelos para esconder a calvície que avança. Comprar um terno e um carro esportivo. Poder levá-la a Paris, Luxemburgo, Praga, Egito e onde mais ela quisesse conhecer. Eu já devia ter lido mil livros e saber falar alemão. Eu tinha que ser menos branco, mais alto, mais sério, mais compenetrado e menos desastrado. Ter olhos glaucos, nariz fino, ombros largos, mãos macias e o cabelo liso. Teria que parar de fumar, malhar duas vezes por dia, comer só salada e entender de vinho. Morar na zona sul em uma cobertura triplex e a convidar para jantar, ela iria querer viver comigo. Queria que meu sobrenome fosse Loyola, para ela desejá-lo, para ocupar um lugar de destaque nas colunas sociais. Devia mesmo era ser um sujeito famoso, ator, cantor, cirurgião plástico, político – político não –, empresário e ter o meu nome todos os dias no jornal. Eu tinha que ser amigo íntimo do seu psicanalista. Ter salvado a vida da sua mãe, ser chefe do seu pai e ex-colega do seu irmão. Eu tinha que ter uma marca de tiro nas costas e um dragão tatuado no bíceps. Precisaria dormir oito horas por noite, assim não ficaria com essas olheiras mórbidas. Fazer a barba diariamente, usar perfumes caros, manter as unhas sempre aparadas, o cabelo cortado e as roupas engomadas. Não rir de piadas imbecis e aprender a fazer comentários inteligentes sobre coisas idiotas. Parar de usar drogas e passar a aprecias pinturas, ópera e teatro. Eu queria ser um homem mais seguro e honesto, só para ela confiar em mim. Eu a queria tanto que seria melhor que ela não existisse, assim, eu poderia ser eu mesmo, por isso eu a matei.
Robert de Andrade Oliveira
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Nossa, Robert, o que foi isso!? Um prenúncio do "caso Eloá"?
Excelente texto.
Aliás, gosto mto do trabalho de vcs nos Impublicáveis. :)
Inté!
Bj
Ana Letícia
www.mineirasuai.blogspot.com
Maravilhoso. Lirismo puro isso.
Tem uns trem que a gente lê e nos faz ir ao centro de um furacão.
Postar um comentário